A Nobre Arte do Palhaço
A Nobre Arte do Palhaço
Amigo sempre me incomoda quando um deputado corrupto qualquer, por conta de sua desfaçatez, é chamado pelos jornais de grande “ator”.
O incomodo vem da certeza que sempre tive, da profunda honestidade com que os atores, quase todos, se aproximam de seus personagens.
O ator tem um compromisso, quase um juramento de Hipócrates – (estranho esse nome para o juramento dos médicos, não? Dá a impressão de ser a origem do juramento dos hipócritas)- com a verdade do personagem. O ator defende o personagem com seu corpo e sua alma. Com honestidade.
Muito mais devem se incomodar os palhaços!
Estou lendo um livro, absolutamente maravilhoso, de Marcio Libar, “A Nobre Arte do Palhaço”, Edição do Autor, que dá a dimensão da seriedade e verdadeiro apostolado do trabalho desses que também são chamados de bobos, truãos, saltimbancos, bufões, chocarreiros...
Nascido na região de Inhaúma, no subúrbio do Rio de Janeiro, Libar está por volta de seus quarenta e poucos anos, e conta no livro como foi descobrindo e burilando sua vocação para a palhaçaria.
Estudioso e talentoso vai narrando com muita verve e verdadeira vocação literária, suas descobertas, seu aprendizado, suas agruras, dúvidas e muita gratidão aos mestres.
Não sei se existe outro livro mais completo e emocionante sobre esse assunto em nosso país. Libar não é um palhaço comum. Se é que existem. A complexa simplicidade dessa arte não escapa a nenhuma observação do autor que vai alternando viagens, apresentações e referências a professores, numa verdadeira aula de consciência da profissão de palhaço e por conseqüência, a meu ver, também da de ator.
É um livro indispensável para todos aqueles que se apresentam diante de espectadores, na tentativa de diverti-los, enternecê-los, conscientizá-los ou emocioná-los. Portanto leitura também para músicos, bailarinos, poetas, sacerdotes e professores.
É impressionante como Libar se joga por inteiro na sua profissão. Em tudo consegue entender o aprendizado e o crescimento, a transformação. Sua sede de instrução e sua persistência e coragem para procurar o novo, só pode ser fruto de uma bendita combinação que tempera e amalgama um “típico mameluco atarracado, cabeçudo, perna curta, olhos claros e longos cabelos “rastafári”, como se apresenta na primeira página do livro.
O subúrbio e a mestiçagem racial forjando o melhor, numa área que por si só já apresenta as maiores dificuldades para quem por ela envereda.
Palhaço não é propriamente, em lugar nenhum do mundo, profissão de rico.
Libar nos coloca em contato, de uma forma contagiante, com os grandes palhaços de sua geração e com muitos que o ajudaram a formar.
O autor filosofa, diverte, provoca e revela como numa verdadeira grande apresentação de um palhaço.
Trabalhei um tempo na Unicamp, no final dos anos 70. Algumas vezes encontrei Luis Otavio Burnier, ao qual o autor se refere diversas vezes em sua experiência catártica e iluminadora junto ao grupo LUME.
Que pena não ter podido aprender com o Burnier um pouco de sua arte!
Universidade ás vezes tem esse defeito de compartimentar. Cada um pra um lado. Luis Otávio morreu jovem. Mas deixou seguidores como o pessoal do LUME que influenciou Libar, que está nos influenciando a todos com seu livro e seu trabalho nos palcos.
Para quem gosta de referências “cults”, Libar foi um dos responsáveis por trazer ao Brasil o grande palhaço e mestre Nani Colombaioni, que vem a ser, simplesmente, o mentor de Federico Fellini nos filmes “La Strada” e “I Clowns”. Basta ou querem mais?
Estou torcendo para o livro não acabar nunca! Quero sempre a companhia desse grande Marcio Libar!
Paulo Betti
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Valeu Piri,
ResponderExcluirObrigado pela força na divulgação do livro.
Em breve teremos uma nova tiragem na mão.Te aviso.
Parabéns pelo Blogger!
Abraço,
Marcio Libar