Centro de Memória do Circo ganha exposição permanente



Foi inaugurada nesta segunda-feira (10), para convidados, a exposição “Hoje Tem Espetáculo!”, com objetos que fazem referência ao mundo do circo. A mostra ocupará o Centro de Memória do Circo (CMC), na galeria Olido (região central da cidade de São Paulo). A data de inauguração coincide com o Dia do Palhaço.
]A exposição tem caráter permanente, assemelhando-se a um museu, onde os objetos ficarão expostos à visitação. A curadoria é de Verônica Tamaoki, coordenadora do CMC, e os cenários, de autoria da artista Carla Caffé.
São aproximadamente 800 m² de área com um acervo que começou com doações de companhias e de famílias circenses, como os arquivos do Circo Nerino (1913-1964) e do Circo Garcia (1928-2003). Os palhaços Piolin, Picolino, Arrelia, Fuzarca e Torresmo, o mágico Tihany, o acrobata Gaetan Ribola e o empresário Antolin Garcia são algumas das figuras lembradas na exposição, que também documenta técnicas de equilibrismo, malabarismo, acrobacia e ilusionismo.
Circo ganha exposição permanente na galeria Olido com acervo de objetos e de imagens como a de Antolin Garcia (acima), do Circo Garcia. Veja mais na galeria de fotos da Folha de S.Paulo
Circo ganha exposição permanente na galeria Olido com acervo de objetos e de imagens como a de Antolin Garcia (acima), do Circo Garcia. Clique na foto para ver a galeria da Folha de S.Paulo
O acervo é composto de vídeos, áudios e fotos, divididos por temas como “artes do circo”, “destaques” (artistas, famílias e circos), “linha do tempo”, “saberes do circo” e “café dos artistas”. O acervo também conta com uma maquete.
A galeria Olido, situada em frente ao largo do Paissandu, é um local propício para um centro de memória do circo porque foi onde se formou a tradição circense da cidade, afirma a Verônica Tamaoki. Autoridades e figuras do mundo intelectual costumavam frequentar os espetáculos no Paissandu. Ali, nos arredores do largo, também acontece desde o início do século 20 o evento denominado “café dos artistas”, uma reunião de artistas circenses pelos cafés locais.
“O encontro acontece até hoje. Do início do século [20] até o início da década de 1990, chegavam a se reunir por volta de 700 pessoas vindas de todas as partes do Brasil. Hoje são cerca de 30 a 50 pessoas. O encontro é sempre às segundas-feiras, que é a folga da categoria. Com a mudança dos meios de comunicação, muito do que era feito pessoalmente é feito hoje pela internet e pelo celular. Mas é uma classe itinerante, então ter um local de encontro onde se trocam notícias e se fecham contratos é muito importante. Existem ‘cafés dos artistas’ em outras cidades, mas o de São Paulo foi o mais importante”, explica Tamaoki.
O CMC também pretente reproduzir, dentro de suas dependências, na galeria Olido, um espaço de encontros para o café dos artistas, onde ocorram, além das reuniões da classe circense, palestras, debates e lançamentos ligados ao circo.
Galeria Olido – Centro de Memória do CircoAv. São João, 473, República, Região central
Tel. 3397-0171.
Qua. a sex.: 10h às 20h. Sáb.: 13h às 20h.
Evento permanente
Classificação: Livre
Valor: GRÁTIS
Confira, abaixo, trechos da entrevista concedida pela curadora Verônica Tamaoki, curadora do Centro de Memória do Circo que, juntamente com Roger Avanzi, o palhaço Picolino, é autora do livro “Circo Nerino” (Ed. Conex):
Folha – Quando surgiu o circo tal como o conhecemos?Verônica Tamaoki - O circo moderno foi criado em 1768, em Londres. Mas a cultura da lona não é bem do início. O que caracteriza o início do circo é o picadeiro. No Brasil, a primeira notícia de um circo data de 1831.
F. Qual a importância da figura do palhaço de circo em nossa cultura?
V. O circo foi o maior e, muitas vezes, o único espetáculo do Brasil. Os palhaços de circo passaram a ter programas de televisão, discos gravados e fizeram filmes. O palhaço é o artista mais importante das artes cênicas do Brasil. Ele é muito citado nas artes plásticas, na música e na nossa cultura em geral.
F. O circo está desaparecendo?
V. O circo pode não ter mais a posição de destaque de antigamente, mas não se estuda a história do teatro e do cinema sem passar pelo circo. A TV, tanto atrás como na frente das câmeras, foi feita por circenses. Estamos numa crise enorme em relação às estruturas itinerantes de lona, mas, por outro lado, uma boa parte da produção atual é herdeira do circo.
F. Qual a importância de se preservar a história do circo num centro de memória?
V. Perder a história do circo é perder uma parte muito importante da história das artes e do país. Só para se ter uma ideia, o arquivo Miroel Silveira, na USP [que guarda processos de censura prévia de espetáculos, no período de 1930 a 1968], possui cerca de 6 mil processos. Desses, mais de mil são de peças circenses e o palhaço Piolin, sozinho, foi responsável por mais de 400 processos.

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