Circo Negro


CiaSenhas soma Veronese ao currículo



A curitibana CiaSenhas estreia amanhã sua incursão pela dramaturgia do argentino Daniel Veronese, com Circo Negro. Entrando no clima, o espetáculo será apresentado até o fim do mês na Cia. dos Palhaços, próximo à Reitoria da UFPR.
Após dois anos de “namoro” virtual com o trabalho do reconhecido autor teatral, o grupo se deixa contaminar pela atmosfera seca e cruel, ao mesmo tempo em que digere Veronese para obter um amálgama que dê continuidade a suas próprias pesquisas sobre teatro.
Serviço
Circo Negro
Cia. dos Palhaços (R. Amintas de Barros, 307), (41) 3077-5009. Quinta-feira a sábado, às 20 horas, e domingo, às 18 e 20 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Até 30 de setembro. Classificação indicativa: 18 anos.
Em cena, Greice Barros e Luiz Bertazzo, que integram a companhia, Ciliane Vendruscolo, que participou de Delicadas Embalagens (2009) e Rafel di Lari, ex-Subjétil, dão corpo a uma experimentação relacionada ao próprio ato de atuar.
“Veronese é muito político, engajado, mas nesse trabalho ele é pós-dramático”, conta a diretora Sueli Araújo. Outras questões que já vinham sendo investigadas pelo coletivo e que puderam ser inseridas no texto do argentino são o contato com o público e os limites da exposição do ator.
O conteúdo é um texto que mais parece um roteiro, abarcando os temas da traição, maldade e fragilidade.
Quando sobem ao palco, sob signos que lembram os shows de bizarrices, os atores movem-se de forma lenta e aparentemente improvisada, parecendo buscar combinações e arranjos para as cenas ali mesmo, olhando-se nos olhos uns dos outros e cochichando.
Desacelerando suas ações, que parecem desgovernadas, os atores passam a impressão de que o espetáculo nunca começa, a não ser em números enxertados, como na simulação de um número circense com animais – ou homens – e no relato de uma morte na Rússia e de uma morte em cena.
Apesar do nome e da recomendação a maiores de 18 anos, o resultado não é tão “negro” assim: nas mãos da CiaSenhas, Circonegro (1996) recebeu uma carga de humor, talvez inerente ao grupo, que Sueli garante que irá diminuir até a estreia.
Em meio a uma peça que fala sobre o próprio teatro, o texto pode ser entendido como um manifesto sobre as dificuldades do ato de representar, falando do dilaceramento vivido pelo ator diante de um público nem sempre receptivo.
É interessante o trato que a companhia dá ao autor argentino: num contexto de diálogo, sem estabelecer hierarquias.
Por exemplo, a cena da morte, requisitada pelo roteiro, é trabalhada de acordo com os interesses do grupo. “Fazemos do nosso jeito”, explica Grace Barros. “Quisemos dar a nossa cara para o conteúdo”, confirma Sueli. A também atriz Anne Celli estreia na assistência de direção.
Autor
Se já esteve interessado no teatro de bonecos e objetos, Veronese hoje utiliza textos clássicos, como A Gaivota, de Tchékhov, que são remodelados para investigar o que podem dizer hoje, mais de cem anos após a estreia. Seu trabalho também interessa ao grupo mineiro Espanca!, que estreou no fim de agosto Líquido Tátil, com texto e direção do argentino.

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